segunda-feira, junho 30, 2008

:: Cidade Mafiosa ::

Por Rodrigo Pimentel, roteirista do filme "Tropa de elite" e ex-capitão do Bope.

"Na cidade mafiosa, jornalistas são barbaramente torturados por integrantes de milícia no mesmo mês em que uma bomba é lançada contra uma delegacia de polícia em uma típica ação terrorista. Em ambos os crimes, as investigações chegam à Assembléia Legislativa. No primeiro caso, um dos acusados de comandar a sessão de espancamento, segundo a própria polícia, seria integrante do gabinete do vice-presidente da casa; no segundo caso o mandante seria um deputado do partido do atual prefeito.

Na cidade mafiosa, a Polícia Civil, agora despolitizada, descobre que na casa onde 50% dos representantes respondem a processos criminais que vão de homicídios até formação de quadrilha, se conectam os crimes praticados nas ruas.

Nessa mesma cidade, 40 deputados, agora jurisconsultos, contrariando parecer dos procuradores federais, alegando inconstitucionalidade da prisão, resolvem soltar o ex-chefe de polícia e colega deputado.

Deputados, ingênuos ou mesmos coniventes, entendem que imunidade parlamentar não se aplica apenas a crimes de opinião, típica do mandato, mas à formação de quadrilha armada e ao enriquecimento ilícito.

De repente, em uma tarde comum na cidade mafiosa, um deputado do partido do governo vai ao plenário defender as milícias. Ora, afinal, é a mesma cidade em que concessões de linhas de ônibus municipais não são licitadas há 30 anos, facilitando o surgimento de transportes ilegais, principal fonte de renda das milícias.

Na cidade mafiosa, aos olhos de todos, policiais militares em motocicletas abordam e extorquem motoristas com IPVA atrasado, após consultar as placas, não nos rádios da corporação mas em aparelhos Nextel.

Na cidade mafiosa, um grupo abnegado e corajoso de delegados, procuradores e jornalistas tenta, timidamente, há mais de seis anos, através de colunas, denúncias e pronunciamentos, acordar seus companheiros para a grande organização criminosa que surge no Estado.

Nessa cidade, a Polícia Federal prendeu mais policiais civis e militares que as corregedorias destas duas polícias juntas. É mesma cidade em que a Polícia Federal também prendeu seus integrantes e indiciou delegados e agentes. Nessa cidade, agora também, a Polícia Civil prende e indicia vereadores e deputados, algo até então inimaginável na cidade mafiosa.

Os ingênuos deputados não acordaram que a premissa básica para existência do crime organizado é a simbiose com o poder estatal e isso já foi alcançado não pelo tráfico de drogas, mas pelos caças-níqueis, pelas milícias, pelas vans piratas e pela máfia dos combustíveis - aliás muito em breve os deputados estarão votando também pela liberdade de colegas representantes destas máfias.

Na cidade mafiosa, o secretário de Segurança Pública, o primeiro nos últimos dez anos com credibilidade necessária para estar à frente da função, continua insistindo nas ações de enfrentamento para desestabilizar o tráfico e apreender armas. Cada vez mais mortes nas favelas não traduzem tranqüilidade ou paz, nem para os moradores dos morros, nem aos moradores do asfalto.

Em breve perceberá o secretário de Segurança Pública que, na cidade mafiosa, as ações nas casas legislativas são mais urgentes, eficazes e necessárias que as operações nas favelas.

Por último, na cidade mafiosa, um senador, candidato a prefeito, determina que o Exército ocupe uma favela contrariando diretrizes do comando da força e violando a Constituição Federal."


Palavras de quem conhece o assunto por dentro. De fato, trata-se de um raio-X exemplar da cidade do Rio de Janeiro.

:(((

terça-feira, junho 24, 2008

:: Da nova série "Coisas que até Deus duvida" ::

Anúncio na imprensa em 1864, feito por um fazendeiro de Irajá, freguesia rural do Rio de Janeiro:

"Queremos alugar até 200 escravos de mais de 10 anos para emprego na cultura do algodão, perto da Corte e num lugar muito salubre (...) asseguramos aos escravos o melhor tratamento e a seus senhores as melhores garantias."

Fonte: Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, de 01.08.1864, página 3

:)))

domingo, junho 08, 2008

:: Frase do dia ::

"O brasileiro não tem medo do fim do mundo. Tem medo é do amanhã.”

Jean Delumeau, historiador francês, autor de "A História do Medo no Ocidente"


:)))

terça-feira, junho 03, 2008

:: Música do dia ::

Quizás, Quizás, Quizás
Autor: Osvaldo Farrés


Siempre que te pregunto
que cuándo, cómo y dónde,
tú siempre me respondes:

quizás, quizás, quizás.

Y así pasan los días
y yo desesperando
y tú, tú constestando:

quizás, quizás, quizás.

Estás perdiendo el tiempo
pensando, pensando
por lo que más tú quieras
¿hasta cuándo, hasta cuándo?

Y así pasan los días
y yo desesperando
y tú, tú contestando:

quizás, quizás, quizás.


:)))