terça-feira, fevereiro 26, 2008

:: ÍTACA ::

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.


poema de Konstantínos Kaváfis baseado na Odisséia - 1911. Traduzido por José Paulo Paes em antologia reeditada pela José Olimpyo (coleção Sabor Literário)

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008

:: Utopias e Realidades ::

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."

Cidades Invisíveis, Italo Calvino

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terça-feira, fevereiro 05, 2008

:: Música do dia ::

Where you end
Moby


Some things fall apart
Some things make you whole
Some things that you find
Are beyond your control

I love you and you're beautiful
You write your own songs
What if the right part of leaving
Turned out to be wrong

If I could kiss you now
Oh I'd kiss you now again and again
'Til I don't know where I begin
And where you end

Thought I fell in love the other day
With an old friend of mine
I was running kisses
Down every inch of her spine

We had the roof down
The sun came shining in
The black fact is
That I was thinking of you

If I could kiss you now
Oh I'd kiss you now again and again
'Til I don't know where I begin
And where you end

I slept in the sun the other day
I thought I was fine
Everything seemed perfect
'Til I had you on my mind

I tried to love you
I did all that I could
I wish that the bad now
Had finally turned into good

If I could kiss you now
Oh I'd kiss you now again and again
'Til I don't know where I begin
And where you end

If I could kiss you now
If I could kiss you now
If I could kiss you now

Oh where you end
Is where I begin

Oh where you end
Oh where you end
Oh where you end


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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

:: Poesia do dia ::

O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne, a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinícius de Moraes


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