quarta-feira, abril 14, 2004

:: Dogville ou Cidade dos Cachorros ::

"Não se pode perdoar as pessoas por agirem de acordo com a sua natureza."

Talvez essa seja a frase emblemática do filme. Quando se desce ao inferno, fica-se a impressão de que nunca se chega ao fim ou ao pior dos castigos, como se o pecado ou a culpa original não fossem passíveis de perdão jamais!

À medida que vamos conhecendo os personagens e as relações entre eles, percebemos que o equilíbrio de forças e, mais ainda, o equilíbrio de desejos é fundamental para que tais relações sejam mantidas em harmonia, em níveis civilizados, ou como queiram chamar. Contudo, as relações nunca apresentam um equilíbrio estável e a invasão ostensiva do desejo de um deve obrigatoriamente ser limitada pelo outro de forma a manter este equilíbrio. Mas não é o que vemos no filme. As relações vão se tornando cada vez mais tensas e é cada vez mais difícil manter o suposto equilíbrio original. Quando o desequilíbrio vai chegando ao seu ponto crítico, seria possível que o forte, aquele que detém o controle sobre a vontade e o desejo do outro, o fraco, abrisse mão de sua força e desta forma exercitasse sua caridade. Talvez, é uma possibilidade. Mas a tentação de exercer o poder se torna insuportável. Ao que parece, neste confronto não há espaço para a razão, então o forte acaba por subjugar o mais fraco, submetendo-o ao seu desejo sem se importar com o desejo do outro.

Mas um outro aspecto interessante que se vê no filme é como o processo evolui em parte por responsabilidade do outro, que não impõe limites ao desejo externo, tornando-se assim o fraco. E o processo continua, afetando inclusive aqueles que não estão diretamente envolvidos, ou seja, nós. Ao final, a trama chega ao seu ponto máximo e o que torna o filme tão supostamente correto é que o diretor nos entrega exatamente aquilo que mais ansiamos. Mas, na verdade, não aceitaríamos qualquer outro desfecho.

Vale também uma observção sobre Tom, o namorado da heroína, feito pelo ótimo Paul Bellany. Otimismo e racionalismo, como a base da supremacia do intelecto, parecem marcantes no comportamento e nas atitudes de Tom. Ele parece acreditar que a manutenção das crenças morais corretas, e a realização de ações corretas, podem ser asseguradas pelo processo do raciocínio. A princípio, Tom seria o contraponto à maneira de ser das demais pessoas de Dogville. O que se vê é que tal crença é tão atraente quanto enganosa e a prova disso é a própria constatação de Tom, que parte para uma tentativa desesperada e patética, ainda que coerente com sua própria natureza, para restaurar o equilíbrio. No fim, deu no que deu!

Enfim, é um filme imperdível!!!

:)))

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