terça-feira, março 30, 2004

:: Meninos e meninas, eu vi ::

Eu vi "A Paixão de Cristo" do Mel Gibson. Fui no Sábado, meio que a contragosto, mas como a curiosidade matou o gato(?), resolvi encarar e lá fomos nós, eu e meu amigo Melniboné.

Quase três horas depois, saímos do cinema. Estava com o estômago embrulhado e me sentindo mal, muito mal. E, pior, com a péssima sensação de que tinha perdido três horas do meu precioso fim-de-semana.

Uma coisa é certa: fiquei chocado. Mas não apenas com o que eu vi no filme, mas com o que vi *fora* dele. Eu explico: o filme se concentra nas últimas 12 horas de Jesus Cristo, explorando à exaustão o seu calvário de uma forma lenta e penosa. A impressão mais forte que tive sobre o filme é que ele foi feito como uma ode ao sofrimento e a culpa. Mas o que mais impressionou não são as cenas fortíssimas, ainda que feitas cuidadosamente, da tortura a que Jesus Cristo foi submetido. O que realmente me impressionou foi a reação do público à medida em que o filme evoluia (sic). Percebi que as pessoas estavam ali porque *também* queriam sofrer, atravessar junto com Ele todo aquele martírio, visualizar aquele espetáculo dantesco e sentir alguma forma de alívio pelas culpas do passado. Ao sair do cinema, fiquei me perguntando se, no fundo, bem lá no fundo, o público não sentiu um boa dose de prazer em fazer parte daquilo, como se acreditasse que a única forma de alívio fosse através de um sofrimento que ao final trazia a redenção.

Apesar disso, foi possível encontrar algumas partes interessantes no filme, como o fato de que Jesus era da Galiléia e que, portanto, as pessoas se referiam a ele como "galileu". Ou ainda, a dúvida de Pôncio Pilatus que, por mais que desejasse atender à vontade de sua esposa, percebeu o problema político que tinha pela frente, preferindo salvar sua própria pele. E, por fim, a incrível interpretação do Jim Caviesel, que conseguiu demonstrar uma infinidade de aspectos psicológicos complexos, como o sentimento de piedade, a arrogância, a resignação, a determinação, a dor e até mesmo a loucura. Foi realmente uma interpretação perfeita, irretocável!

Por fim, sobre as acusações de anti-semitismo, eu confesso que não vi motivos para tanto. Mas essa foi a minha percepção e respeito quem tenha percebido coisa diferente. Afinal, não é algo que se possa fingir que não exista em nossas sociedades.

Bom, a curiosidade acabou. E estou digerindo esse filme há 3 dias, tal como uma feijoada que não caiu bem. Brincadeiras à parte, de fato, acho que o filme não acrescenta nada, mas apenas evidencia e ressalta algo que está inerente em nossa cultura católica, que me acompanhou durante uma boa parte da minha vida e que considero completamente equivocado: o dogma de que as pessoas só podem alcançar a felicidade através do sofrimento e da penitência. Digo isso porque acredito que essa busca passa obrigatoriamente por uma auto-reflexão e certamente existem outros caminhos para alcançá-la.

Bom, essa é a minha modesta opinião!

Agora chega! Não falo mais sobre isso!!!

:(((

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