terça-feira, maio 28, 2002

A MATEMÁTICA SINISTRA DA NOITE CARIOCA, OU SIMPLESMENTE, EQUAÇÃO DE X E Y
por Gustavo de Almeida

"A causa de todas as doenças, sejam físicas, sejam psíquicas, é a impotência do sentimento. Desde o câncer no seio até a brotoeja, tudo é falta de amor"
Nelson Rodrigues

Tenho observado a noite carioca, geralmente calado, apreciando a música enquanto tento fazer o gelo render mais no meu copo de uísque (nada parece consumir mais gelo do que o uísque, é impressionante), e começo a notar que existe uma matemática na conquista e na sedução, uma matemática interessante.

Homens e mulheres têm lá suas equações, e volta e meia uma verruga na ponta do nariz ou mesmo descobrir que o amado é assinante de Seleções do Reader´s Digest pode levar a uma verdadeira dízima periódica. Mas há regras e contas que servem para a melhor sobrevivência tanto de caras bonitos quanto de caras não bonitos (vou evitar usar a palavra feio, porque, sinceramente, às vezes eu penso que feio é tudo que não vem de Hollywood – para os outros, claro).

Em primeiro lugar, devemos aceitar que, em Condições Normais de Temperatura e Pressão, ou seja, em igualdade razoável de intelectos, as chances do cara bonito (X) são incalculavelmente maiores do que do cara não bonito (Y) com a moça. E não me venham com “ah, a mulher se preocupa com o algo mais”, porque a gente sabe que isso é mentira. Até entre os homens é a maior cascata – vide aquela sábia piada em que o cara tem que escolher entre três mulheres, uma inteligente, outra rica e outra dedicada, e no final o malandro fica com a de melhor bunda.

Partindo desse pressuposto, que espero que tenha sido bem aceito, vamos lá:

Tempo de caô - um cara não bonito (Y) precisa de 35 vezes o tempo que o cara bonito (X) usará para conquistar a mesma moça. Isso significa que, mesmo que Y passe a semana enviando livros de Pablo Neruda, dando CDs do Yo La Tengo e escrevendo longas cartas explicando porque sonhou com o rosto dela numa névoa, o cara X precisará de 1/35 desse tempo utilizado para estar com a moça. E isso mesmo depois dele dizer “aí mina, teus corno é show” – claro, pedindo desculpas depois, se for com uma moça inteligente. Se as operações de X e Y acontecerem ao mesmo tempo, é altamente recomendável a Y que seja breve, sucinto e tranqüilo, para dar logo a vez a quem realmente vai ficar com a garota. De preferência, ao notar a aproximação de X e ver que a moça com quem antes conversava sobre o último filme do Win Wenders está gritando, “ô Paçoca, ô Paçoca” para o cara que se aproxima. O cara Y nesse momento deve preferir uísque 8 anos com três pedras de gelo. Deve-se evitar passar no alto de um prédio, ainda mais se estiver na companhia de um rifle.

Qualidade da conversa – O papo conduzido pela garota tem uma série de códigos. Em 75% dos casos, quando descamba para livros, CDs, filmes, ou análises existenciais, significa que ela não vai dar para você porque encontrou na sua pessoa um sujeito tão sensacional para conversar que ela acha uma perda de tempo esse negócio de sexo. Logo, posso criar uma outra regra que seria “as chances do sujeito são inversamente proporcionais à densidade da conversa com a mulher”. Geralmente, conversas do cara X calcadas nas expressões “ih, o cara aí”, “demorô”, “com mostarda ou sem” e “iiiiçaa” costumam surtir mais efeito do que quando o cara Y revela que “Paris, Texas” é seu filme de ação favorito.

Abordagem – A abordagem do cara Y tem que ser a mais cuidadosa possível. Como eu já escrevi uma vez – para uma menina, que além de não concordar, ainda ficou puta comigo – o cara Y está dirigindo uma Jordan, e o cara X, uma Ferrari. O cara Y tem que fazer o traçado certinho, não subir na zebra, pisar no máximo, desacelerar jamais e nem pensar em tremer o volante. Se conseguir tudo isso, é só torcer para o cara X ser esmagado por uma bigorna, que as chances dele subirão para 5%. Já o cara X pode ir fazendo merda, atropelando mecânico, batendo na caixa de brita, e até descer do cockpit para tomar uma cerveja. Foda-se. Se ele não se mostrar um completo idiota, leva. Se for um completo idiota, as chances dele caem para 95%.

Pelo que eu observei na noite carioca, o cara Y não aborda. Fica ali na área que nem Túlio, paradão, esperando que uma amiga apresente outra amiga, puxa um papo geralmente sobre o artista que está tocando a música do momento, e por aí vai. A merda da abordagem do cara Y é que ele não pode sentir sede e nem vontade de ir ao banheiro, senão periga ele voltar e dar de cara com a moça, o cara X e um padre no meio dos dois. Abençoando a união.

As estatísticas que apurei dessas observações constatam que o cara Y, caso tenha dreadlocks e esteja abordando uma menina de cabelos azuis e um piercing na retina, tem sucesso em uma entre sete tentativas. Já o cara X escolhe entre dez opções, faz uma tentativa, leva, e ainda volta para pegar outra depois de comer um filé com queijo e abacaxi no Cervantes.

Atuação – esse é o único quesito em que a tabela do campeonato é justa: todo mundo em igualdade de condições, ninguém joga por dois empates. Tanto o cara X quanto o Y tem todas as chances de proporcionar às suas respectivas consortes uma grande noite de prazer. Nesse ponto, serão fatores de peso o caráter, a atenção, a afetividade, enfim, essas coisas cafonas e fora de moda na noite, e que perderam espaço há muito tempo para instrumentos de linguagem mais objetiva, como o taco de beisebol e a alabarda. Há correntes que defendem que o cara Y, ou seja, o não bonito, é que nem centroavante em fim de carreira: entra dando a vida, querendo arrebentar que é para não perder a vaga. As mesmas correntes preconizam que o cara X é mais ou menos como o Denílson: está só fazendo uma horinha, tem clube para jogar, por isso não se preocupa tanto com fazer a nova amiguinha chegar no Monte Olimpo. Ele quer mais é o dele. Eu, particularmente, não teorizo sobre isso porque estou mais para ser escalado no time dos caras Y, ainda mais depois que a pizzaria onde eu peço entregas me mandou uma placa de melhor cliente de 2000. Se eu falasse, poderia estar advogando em causa própria. Mas a verdade é que as próprias mulheres não devem se guiar por essas idéias estereotipadas.

Perfume – as mulheres são muito sensitivas, para elas importam tato, paladar, visão, audição e principalmente o olfato. Pesquisas realizadas em instituições sérias dão conta de que o máximo que o cara Y arruma quando coloca perfumes caríssimos da Ralph Lauren para arrancar elogios femininos é uma declaração vistosa de um amigo gay, “hum, também comprei esse”. Ao que parece, as meninas veriam no cara Y um sujeito que “pelo menos é limpo” (35%), “usa perfume enjoativo” (35%) e “ih, não preciso nem virar as costas para saber que ele chegou” (30%). A pesquisa tem margem de erro de 3%.

As despesas do cara Y com perfumaria atingem, anualmente, 15% de seu orçamento, segundo cálculos de instituições financeiras sérias. Já as do cara X não chegam a 2% do faturamento de um dia de uma barraca de churros num congresso de faquires. Explica-se: as mulheres que ele traça lhe dão de presente dezenas de perfumes.

Tempo de convivência – este quesito se parece com o primeiro, relativo ao tempo de conversa, mas tem uma diferenciação: engloba tudo o que X e Y fazem pela mulher. Geralmente, se X e Y são amigos, o segundo é acordado no meio da noite pela moça para ouvi-la chorar e dizer o quanto X é ruim, canalha, egoísta. Mas isto não é uma estatística científica. Digamos que, em termos de chances baseado em convivência, X = 200Y. Ou seja, sujeitos que a garota acaba de conhecer enquanto luta por uma cerveja gelada no balcão, se bonitos, têm consideravelmente mais chances do que o Y que passou a semana ouvindo-a se queixar de que “não conhece um cara legal há séculos”. Claro, ele não conta porque ele é.....uma entrada para Harry & Sally para quem disse “amigo”. Mas sobre essa questão é eticamente incorreto discorrer. Posso dar a impressão de que sou algum tarado que tem vontade de comer todas minhas amigas, mas isso seria uma inverdade. Só porque tenho amigas deliciosas, espetaculares, verdadeiros tesões, não significa que eu vá ter sentimentos libidinosos por elas. Não seria normal, seria uma afetação hormonal. Confesso que jamais olhei para os sensacionais seios e as bundas inacreditáveis de nenhuma de minhas amigas.

Enfim, that´s matemática, pessoal. Ciência exata. O negócio é cada um se cuidar da melhor maneira possível. E é extremamente aconselhável estar vestindo um escafandro à prova de balas ao falar para o cara Y que “tem sempre um chinelo velho para um pé cansado”. Dizem que a primeira vez em que essa frase foi pronunciada, os bárbaros tomaram Constantinopla.


:)))

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