:: O Reino dos Céus ::

Em tempos de exacerbação do fundamentalismo e de contestação dos valores humanistas, um filme como esse é muito bem-vindo. Assim, preciso corrigir uma injustiça. Sim, o filme tem alguns pecados mortais, principalmente ao fazer do protagonista uma figura tão bidimensional. Não fica explicado em nenhum momento como um simples ferreiro consegue ao mesmo tempo ser um exímio guerreiro, um estrategista brilhante, com tamanha capacidade de liderança e oratória.

No confronto de civilizações, o herói prefere a paz, a tolerância e a coexistência, onde os conflitos são resolvidos por meio de conversas e negociações. Isso sem falar na ética e nos valores iluministas que somente iriam revolucionar os padrões do Ocidente mais de 5 séculos depois. Mas sabemos que, nos tempos de Guerra Santa, o amor ao próximo era ao próximo mesmo, aos cristãos, europeus. A ética na guerra não era válida para judeus, muçulmanos e oriundos de outros povos e religiões.

E para nós latinos, brasileiros, o que resulta desse confronto entre o ocidente e o oriente? Somos os filhos do ocidente, sem dúvida, mas também somos aqueles que mal ou bem receberam os outros povos e conseguiram criar o Novo Mundo, com sociedades tão plurais, diversificadas e com um sentimento único de nação. Por acaso, não é sobre isso que o filme nos fala?

Algumas referências bastante sutís tornaram alguns diálogos muito interessantes. Quando o Rei (Edward Norton), ao falar da ética do conflito entre cristãos e muçulmanos, afirma que argumentos como "estávamos apenas cumprindo ordens" não serão suficientes pra justificar a barbárie, também remete aos oficiais nazistas que usaram a mesma justificativa em sua defesa no Tribunal de Nuremberg. Prevaleceu a tese de que crimes contra a Humanidade não podiam ser legitimados por qualquer poder de qualquer Estado. Ainda bem!

E como não mencionar a música do filme? Que música! Excelente!!!

Enfim, gostei do filme! OK, também é um filme de sangue e porrada na madrugada! Mas aí já é outra história!

:)))